terça-feira, 20 de março de 2012

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão 
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

                          Alberto Caeiro 

Começou hoje a Primavera, e para ela as flores mais risonhas que em tempos encontrei nalgum blogue. São lindas e muito saborosas, uma homenagem à criança que há em todos nós.
Feliz Primavera 2012. 

225 gr. de manteiga amolecida
100 gr. de açúcar
1 ovo grande
1/2 colher de chã de canela
310 gr. de farinha de trigo

Bate-se a manteiga, até ficar em creme. Aos poucos, adiciona-se o açucar e bate-se até formar um creme liso e areado. Mistura-se o ovo e a canela. Pouco a pouco acrescenta-se a farinha e mistura-se bem a massa com as mãos até fazer uma bola. Cobre-se a massa com película aderente e deixa-se no frigorífico durante uma hora.
Entretanto, pré-aquecer o forno a 180 Cº.
Numa superfície enfarinhada, com o rolo, estende-se a massa com uma espessura de 3 mm. Corta-se a massa com cortadores enfarinhados em formato de flores. Espeta-se os paus (usei pauzinhos para espetadas cortados um pouco ao comprimento).
Coloca-se os biscoitos num tabuleiro que não necessita de estar untado nem enfarinhado. Coze-se no forno pré-aquecido de 8 a 12 minutos, até dourarem.
Depois de arrefecerem, decora-se com glacé.
Para o glacé: Mistura-se 250 gr. de açúcar em pó com 2 claras batidas em castelo, a que se junta os corantes alimentares desejados.
Depois de decoradas com o glacé, deixa-se secar de um dia para o outro e guardam-se em latas ou embulham-se em sacos de celofane com fitas para oferecer :)

terça-feira, 13 de março de 2012


Distância e longa ausência prejudicam qualquer amizade, por mais desgostoso que seja admiti-lo. As pessoas que não vemos, mesmo os amigos mais queridos, aos poucos se evaporam no decurso do tempo até ao estado de noções abstractas, e o nosso interesse por elas torna-se cada vez mais racional, de tradição. Por outro lado, conservamos interesse vivo e profundo por aqueles que temos diante dos olhos, nem que sejam apenas os animais de estimação. Tão presa aos sentidos é a natureza humana. Por isso, aqui também são sábias as palavras de Goethe: O tempo presente é um deus poderoso.
Os amigos da casa são chamados assim com justeza, pois são amigos mais da casa do que do dono, portanto, assemelham-se antes aos gatos do que aos cães.
                                                                     Schopenhauer, in "Aforismos para a Sabedoria de Vida"
Regressamos a casa agora que o P. já fez todos os exames médicos de que precisava, e com os quais não estavamos a contar. Não chegou para o susto, mas pronto, adiante que atrás vem gente.
Merecia um mimo, o rapaz, e como temos o frigorífico cheio de ovos caseiros da mãe e da vizinha e há poucos dias o P. me perguntava como se fazia a mousse de chocolate caseira, saíu a mousse com pó de ló das freiras de Fátima.
É bom que se farta, irresistível e péssimo para quem está de dieta :(
Mas estes dias passados na magnífica cidade Invicta, e em casa da mãe, com as melhores comidas do mundo, já tinham arrasado com as prescrições da dietista. No congelador esperavam-nos as tripas à moda do Porto do domingo gordo e o cozido do Carnaval a que não comparecemos este ano, graças às opções políticas que neste espaço me abstenho de comentar.
Ai, nem os repastos do Eça, se aproximam das delícias fumegantes que desfilam na mesa da casa da minha mãe. 
Voltando à mousse das freiras - Em Fátima ainda existe uma casa de freiras com restaurante aberto ao público, onde a ementa consiste numa sopa, um prato de carne ou peixe à escolha e fruta ou doce - comida económica e frugal. Porém há muitos e muitos anos quando eu era pequenina serviram à mesa, uma terrine de porcelana que continha deliciosas fatias de pão de ló mergulhadas numa mousse de chocolate irrepreensível. Tentei recriar a referida obra de arte e não me arrependi. Para a mousse uma receita dos caderninhos da minha irmã F.:

Mousse de chocolate
150 gr. de açúcar
150 gr. de chocolate Bellville (é chocolate de culinária, usei Nestlé)
100 gr. de manteiga
6 ovos
algumas nozes
Derrete-se a manteiga em banho maria, a que se junta o chocolate em raspa, batendo até ficar desfeito. Retira-se do lume juntando o açúcar e continuando sempre a bater; em seguida juntam-se as gemas uma a uma batendo sempre. Por fim junta-se as claras batidas em castelo firme, misturando-se sem bater. Verte-se numa taça e enfeita-se com nozes.
Nota: Esta versão de mousse pode servir-se de imediato sem ir ao frigorífico. No entanto eu levei ao frigorífico pois gosto da mousse fresca.
Para o pão de ló a receita de uma velha amiga, a L. - uma amizade que se desvaneceu pela distância ... A L. adorava fazer sobremesas, quando descobriu esta receita nunca mais comprou um pão de ló de pastelaria pela Páscoa ou pelo Natal - eis uma boa ideia para a crise e para a saúde também.
Eramos muito amigas, recordo com saudades aqueles anos, mas Schopenhauer tem razão...

Pão de ló da L.



7 ovos
14 colheres de sopa de açúcar
7 colheres de sopa de farinha com fermento (usei Nacional para bolos)
Batem-se durante 15 minutos as gemas com o açúcar. Acrescenta-se a farinha colher a colher, continuando a bater. Bate-se as claras em castelo firme com uma pitada de sal e envolvem-se na massa do bolo sem bater. Vai ao forno pré-aquecido a 200 Cº, em forma de buraco untada e polvilhada com farinha. Coze cerca de 15 minutos e está pronto.



Bom apetite.
Nota: As fotografias não fizeram jus às maravilhas culinárias e não tenho uma terrine de porcelana, mas logo que encontre uma que me agrade, vou proceder à sua aquisição. Isso e uma fruteira que é coisa que também não existe nesta casa, e só me dei conta agora que tinha uma grande reserva de maçãs e não havia onde guardar! Já tive várias fruteiras, foram-se partindo, e ultimamente a fruta anda em taças de barro, nem me dei conta...
 



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


"A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América; - mas estes dois impulsos, tão diferentes em dignidade e resultados, brotam ambos de um fundo intrinsecamente precioso, a actividade do espírito." Eça de Queiroz in “Notas Contemporâneas

A minha avó L.
Lembro-me sempre dela, no corredor, escondida, a escutar as minhas conversas de adolescente ao telefone.
Tinha o marido no Brasil, quando emigrou para a Venezuela com o filho mais velho, o meu Tio A.
Era a  L., a minha avó materna. Morreu há alguns anos, mas lembro-me dela todos os dias.
Era a matriarca lá de casa. Rija, mazinha, mas gostava de mim à sua maneira, e eu gostava dela à minha maneira.
Adorava o quintal, a horta, a vinha, os coelhos e as galinhas, mas da casa não queria saber, dessa era a minha mãe que cuidava.
Quando eu era criança, havia muita gente lá por casa, de quem falaremos por cá qualquer dia, mas hoje é o dia da minha avó L.
Às vezes, aos Domingos, a avó gostava de ir almoçar fora. Nessas ocasiões vestia um vestido com discreto decote e punha a gargantilha que me coube por herança.
No dia que acabei o curso, telefonei para casa a dar a feliz notícia. Quando cheguei mais tarde, a avó estava à minha espera ao portão, quis ser a primeira a dar-me os parabéns e um rolinho de notas que escondia debaixo do braço. Por estas e por outras parecidas eu sei que gostava de mim, a minha avó L., que era pouco dada a sentimentalismos…
Era um bom garfo e adorava um cálice de vinho do porto, foi este o seu último desejo.
Nasceu no dia de São Martinho e morreu nas vésperas de um 25 de Abril. 
Também era uma excelente cozinheira bem como o Tio A.
Da Venezuela entre outras coisas trouxeram excelentes receitas que hoje em dia continuamos a cozinhar com frequência na família.
No Domingo passado, foi Domingo Gordo, mas como este ano já não houve Carnaval, eu e o P. já não fomos aos cozidos de carne “a val” das nossas mães que estão no Norte.
Então só por despeito o almoço de Domingo foi de carnes magras.

Coelho Assado com Farofa.
Esta receita de farofa foi das que vieram da Venezuela. Quando se criavam coelhos caseiros na casa materna, bem grandes e gordos, recheava-se a barriga com esta farofa e cozia-se com um fio. Com os coelhitos de aviário que são mais pequenitos, a farofa é servida à parte sendo essa a única diferença. Aqui vão as receitas que podem copiar e se tiverem coelhos caseiros toca a rechear.
O coelho, limpo e inteiro, coloca-se na noite da véspera a marinar num alguidar com vinho tinto, sal, pimenta branca, 3 folhas de louro e 3 dentes de alho esmagados.
No dia seguinte, no fundo de uma assadeira de barro ou pirex, coloca-se uma cebola às rodelas e um ramo de salsa, colocando-se por cima o coelho escorrido da marinada rodeado de batatinhas, regando com um molho que faço do seguinte modo:
Numa tigela, junto metade de azeite e metade de água, temperada com 1 colher de sobremesa de sal, 1 colher de chá de pimentão doce e uma colher de café de pimenta branca, mexo tudo muito bem e é só regar.
Vai ao forno a 220 Cº, e quando o coelho está tostadinho, vira-se e assa do outro lado até estar tostadinho também.

Depois é só fazer a
 Farofa
Numa frigideira, coloca-se 1 cebola pequenina picada, 1 dente de alho picado e 1 pouco de salsa picada, algumas rodelas fininhas de chouriço a gosto, alguns quadradinhos de bacon e azeitonas pretas ou brancas, cobre-se o fundo da frigideira com azeite e vai ao lume a refogar.
Quanda a cebola estiver douradinha, vai-se acrescentando com as mãos farinha de pau (farinha de mandioca) e mexendo rapidamente com um garfo para não criar grumos. Rega-se com um pouquinho de água, tempera-se com uma pitada de sal e pimenta e mexe-se sempre em lume brando, durante 5 a 10 minutos até cozer.
Agora, é só servir acompanhando com arroz seco e salada.
Bom apetite.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

..."Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidas. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas."

Agustina Bessa-Luís, in 'Antes do Degelo'



Antes de mais nada, tenho que corrigir, no fim de semana fomos ver "A invenção de Hugo" de Martin Scorcese. O lapso foi inconsciente e presumo que veio de "O estranho mundo de Jack" de Tim Burton.
A invenção de Hugo conta a história de um menino que vive num mundo muito especial e recupera um velho autómato e com isso o passado feliz de outrém...
Emendado o erro, quero agradecer muito ao leitor anónimo que descobriu a autora da "Delícia de Laranja", uma receita de 1959. A minha irmã do meio, a F. nasceu em 1960, é mais nova um ano e a minha irmã mais velha, a T., nasceu em 1958, é mais velha 1 ano. Eu já vim em 66, portanto já não tive aulas de culinária.
Porque a autora dos "Cinco quartos de laranja" gosta tanto de bolos de laranja, dedico-lhe mais uma receita do caderninho, que fiz no Domingo passado e que o P. teve que comer sozinho por causa da minha dieta.

Este bolo também é muito bom, apesar disso gosto mais da "Delícia de laranja". Este é um bolo seco e fofo que com a calda se parece com um bolo-pudim. A calda na receita original leva licor de laranja ou triple seco, no entanto eu faço com rum ou conhaque pois acho mais saboroso, uma vez que a calda já por si é muito doce.
Bolo de laranja
Sumo de 2 laranjas
Raspa de 1 laranja
300 gr. de açucar
180 gr. de farinha (uso Nacional para bolos)
4 ovos
1/2 decilitro de leite
Batem-se as gemas com o açúcar e o leite. Junta-se a farinha, o sumo e a raspa e bate-se. Acrescenta-se as claras em castelo. Depois de cozido e ainda na forma, pica-se com um palito e rega-se com o molho. Desenforma-se. (Nunca faço assim, primeiro, desenformo e ainda quente pico com um garfo e brego com a calda, pois senão desfaz um pouco ao desenformar).
Molho
2,5 decilitros de água
sumo de 2 laranjas
150 gr. de açúcar
1 cálice de triple seco ou licor de laranja.
Leva-se a ferver 5 minutos o açucar com a água e o sumo. Retira-se do lume e junta-se o licor. Desta vez juntei rum e ficou assim
Bom apetite!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sábado, o melhor dia da semana, e para o almoço tivemos um prato que já me deu muitas alegrias:

Lulas à Bordalesa

É uma receita que faço há muitos anos, inspirei-me num pratinho económico que comi um dia num cafezinho do Porto, na Rua Sá da Bandeira.
Ainda existe, mas com a crise a qualidade já não é a mesma, no entanto durante muitos anos almoçava-se ali a um preço muito económico uma comidinha muito boa.
Um dia serviram-me umas lulas que achei muito saborosas e por instinto ensaiei na cozinha até conseguir o mesmo resultado, desde esse momento, lulas em minha casa são à Bordalesa.
Antes, estufava as lulas com pimentos e picante e servi-as com batatas cozidas, à moda da Dona T., minha mãe ( um dia farei e deixarei aqui a receita).
Quase tudo o que sei de cozinha aprendi com a minha mãe, que é uma cozinheira de mão cheia, inigualável!
No entanto, pelas lulas à Bordalesa, faziam fila os amigos e colegas com que estudei na cidade de Coimbra -o C., a Z., a R., todos me perguntavam frequentemente quando os convidaria para comer lulas...
Mas adoração pelas minhas lulas tinha a minha querida amiga S. que regressou a Moçambique, a sua terra natal, e que já não vejo há anos.... "Rosinha, como consegue cozinhar lulas tão tenras que fazem lembrar leite..."!
Ah! minha amiga S..., quem me dera que estivesses perto para vir comer estas lulinhas, que sempre que cozinho me deixam cheia de saudades tuas...



Receita para duas pessoas:
1 Kg de lulas das pequeninas (uso quase sempre congeladas, limpas ou por limpar que gosto mais pois são mais vermelhinhas),
1 cebola, 2 dentes de alho, salsa, louro, 1 malagueta (quem gostar de picante), azeite, vinho branco e sal q.b.
Num tacho refoga-se a cebola e o dente de alho picados em azeite. Quando a cebola começa a ficar translúcida, juntam-se as lulas, lavadas e cortadas às rodelas, a salsa picada, o louro e a malagueta.
Assim que levantar fervura, acrescenta-se meia chávena de vinho branco, mexe-se e tapa-se bem o tacho. Fica a cozinhar em lume mínimo durante cerca de 50 minutos.
Entretanto, torram-se quadrados de pão que se colocam numa taça, vertem-se por cima as lulas com o respectivo molho. Serve-se acompanhado de salada e
Arroz de alho
Num tacho leva-se ao lume um fundo de azeite com 4 cabeças de alho picadas. Assim que estalarem os alhos, acrescenta-se uma chávena de arroz agulha, mexendo bem.
Junta-se duas medidas de arros de água a ferver, aos poucos e mexendo bem, tempera-se de sal, coloca-se em lume mínimo e deixa-se cozer cerca de 10 minutos.
Bom apetite.

Foi também dia de cinema, desta vez o P. e eu fomos conhecer o mundo do 3D, com a Invenção de Jack.
Do 3D não ficamos grandes fãs, mas o filme é realmente muito bonito - uma criança lindíssima em cenários fantásticos.

Uma vez que não estou por perto e por isso não vos posso convidar para almoçar, partilho as receitas das comidinhas deste fim de semana.

Quinta-feira consultei a dietista da farmácia na esperança de perder os 8 Kg que ganhei nos últimos 8,5 meses.
Deixei de fumar no dia 8 de Junho de 2011!
A 1.ª regra: Começar o almoço e o jantar com um prato de sopa, sem feijão, massa ou arroz e apenas com duas batatas por panela.
Na sexta-feira fiz então a seguinte
 Sopa de Legumes :

Água do cozido (tinha cozido vitela magra com legumes para o almoço)
2 batatas, 2 cenouras, 1 courgette, 1 chou-chou, 1 cabeça de nabo, todos partidos em quadradinhos pequenos, 1 alho francês às rodelas e dois dentes de alho inteiros.
Cozi os legumes todos na água do cozido rectificada de sal.
Quando cozidos retirei uma parte e passei os restantes com a varinha mágica.
Acrescentei-lhe os legumes aos quadradinhos que retirara, 1/2 couve-flor pequena cortada em pedacinhos pequeninos, salsa picada e 3 folhinhas de hortelã, e levei ao lume para cozer a couve flor.
Bom apetite.

A 2.ª regra: Ao jantar a comida, serve-se num pratinho de sobremesa, nas proporções de 1/2 prato de legumes, 1/4 de protéinas e 1/4 de hidratos de carbono :(

Como tinha muitos olhos de couve galega que a minha mãe me tinha mandado, comemos o seguinte:
Bacalhau com broa

Esta receita aprendi quando trabalhava em Leiria, com a Dona F., que era uma senhora muito bonita à qual um idoso chefe que tivera em nova, chamava "rosa", por ser uma linda rapariga.

um molho de hortaliça (pode ser couve de qualquer tipo verde, ou grelos)
lombos de bacalhau para cozer e lascar
1 cebola, 2 dentes de alho, azeite, vinagre, pimenta, sal e louro
broa de milho

Coze-se o bacalhau, retira-se e na mesma água de o cozer leva-se ao lume a hortaliça bem lavada, temperando-se com sal a gosto.
Enquanto a hortaliça coze bem, leva-se um tachinho ao lume com azeite, a cebola às rodelas, os dentes de alho picados, e deixa-se cozinhar em lume brando, para cozer bem a cebola. Tempera-se com uma folha de louro, sal e pimenta moida. Quando a cebola estiver translúcida, acrescenta-se umas gotinhas de vinagre, mexe-se e desliga-se o fogão.
Entretanto, desfaz-se os lombos de bacalhau em lascas e escorre-se muito bem a hortaliça num passador, apertando com uma colher para largar a água da cozedura.
Num pirex de ir ao forno, coloca-se em primeiro lugar o molho de cebolada (e muito importante que seja assim para que os restantes ingredientes não fiquem imprganados de molho, quando se servir mete-se a colher de baixo para cima e já fica com molho suficiente). Por cima do molho, o bacalhau em lascas, depois os legumes, e por fim cobre-se com bastante miolo de broa de milho esfarelada.
Vai ao forno, cerca de 20 minutos até que a broa esteja lourinha.
Bom apetite.

Cá em casa, como era noite de sexta, foi acompanhado pelo vinho branco do cunhado transmontano, que é uma especialidade!
Ah! e na dieta o vinho não está proíbido, a dietista diz que as mulheres podem beber um copo de vinho por dia e devem temperar a comida com vinhos e vinagres, pois ela não pretende que se comam apenas cozidos e grelhados.






quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012


“Como a gente se perde! A linguagem que o meu sangue entende - é esta. A comida que o meu estômago deseja  - é esta. O chão que os meus pés sabem pisar – é este. E, contudo, eu não sou já daqui. Pareço uma destas árvores que se transplantam, que têm má saúde no país novo, mas que morrem se voltam à terra natal.”

                                                                        Miguel Torga, in “Diário” 1934.





A minha irmã do meio

De seu nome F., a minha irmã do meio vive longe da terra natal, tal como eu que vivo longe das duas.


É professora, e despertou em mim o gosto por Miguel Torga, com ela conheci a terra dele, São Martinho da Anta, e guardo para sempre a lembrança da Galafura.

Hoje em dia vemo-nos e falamo-nos pouco, no entanto “…muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa…”

Criei o blogue e nem sequer pensara ainda por onde começar, quando vi o desafio lançado em «Cinco Quartos de Laranja» que costumo visitar: Uma receita com laranja.

Por coincidência mudei de casa há pouco tempo e uma vizinha, a título de boas vindas, ofereceu-me um saco dos frutos do seu laranjal.

Falar em laranjas em casa da minha família é o mesmo que falar no “Bolo de Laranja da Rosa”. O bolo de laranja da Rosa é imprescindível nas festas de Natal – que é o mesmo que dizer que se não há bolo de laranja, o Natal não é o mesmo.

O bolo de laranja da Rosa já foi requisitado para todo o tipo de comemorações, em qualquer época do ano.

Foi com o bolo de laranja que a Rosa começou a ganhar gosto pela cozinha, porém o bolo de laranja da Rosa, não é da Rosa – é uma receita tirada dum caderno de receitas da F.!



Até hoje, a minha irmã do meio é a única representante do ramo materno da família que não se concilia com a cozinha, talvez por isso deixou esquecidos nas gavetas dos armários da cozinha da nossa mãe os seus preciosos caderninhos.

Nos seus tempos de liceu, do programa curricular faziam parte as aulas de culinária e a minha muito organizada irmã trazia impecáveis todos os seus cadernos.

As receitas são excelentes e muitas delas fazem parte do meu reportório culinário, que tantas alegrias me tem dado.

Os caderninhos, como podem ver estão a ficar gastos e tenho «passado a limpo» as receitas, mas os cadernos esses quero guarda-los, até porque a mana é senhora de uma letra toda certinha e “mui guapa”.

Vamos então à receita que nem é da Rosa nem da F., cuja origem remonta aos anos setenta e às aulas de culinária do Liceu Rainha Santa Isabel, e continua a ser a receita de bolo de laranja mais apreciada cá por casa:

Delícia de Laranja

2 laranjas

250 gr. de manteiga

250 gr. de açúcar

220 gr. de farinha com fermento

5 ovos

Unta-se uma forma de buraco e polvilha-se com farinha.

Liga-se o forno a 190ºC.

Bate-se a manteiga com o açúcar, o sumo e a raspa de 1 laranja.

Junta-se os ovos inteiros um a um batendo sempre.

Por fim acrescenta-se a farinha.

Vai ao forno entre 30 a 40 minutos, até espetar um palito e ele saír seco.

Desenforma-se ainda quente, pica-se com um garfo e rega-se com uma calda feita com o sumo de 1 laranja batido com açúcar (num copo coloca-se açúcar até cobrir o sumo, bate-se com uma colher e está pronta).




Bom apetite.
Rosa C.