terça-feira, 13 de março de 2012


Distância e longa ausência prejudicam qualquer amizade, por mais desgostoso que seja admiti-lo. As pessoas que não vemos, mesmo os amigos mais queridos, aos poucos se evaporam no decurso do tempo até ao estado de noções abstractas, e o nosso interesse por elas torna-se cada vez mais racional, de tradição. Por outro lado, conservamos interesse vivo e profundo por aqueles que temos diante dos olhos, nem que sejam apenas os animais de estimação. Tão presa aos sentidos é a natureza humana. Por isso, aqui também são sábias as palavras de Goethe: O tempo presente é um deus poderoso.
Os amigos da casa são chamados assim com justeza, pois são amigos mais da casa do que do dono, portanto, assemelham-se antes aos gatos do que aos cães.
                                                                     Schopenhauer, in "Aforismos para a Sabedoria de Vida"
Regressamos a casa agora que o P. já fez todos os exames médicos de que precisava, e com os quais não estavamos a contar. Não chegou para o susto, mas pronto, adiante que atrás vem gente.
Merecia um mimo, o rapaz, e como temos o frigorífico cheio de ovos caseiros da mãe e da vizinha e há poucos dias o P. me perguntava como se fazia a mousse de chocolate caseira, saíu a mousse com pó de ló das freiras de Fátima.
É bom que se farta, irresistível e péssimo para quem está de dieta :(
Mas estes dias passados na magnífica cidade Invicta, e em casa da mãe, com as melhores comidas do mundo, já tinham arrasado com as prescrições da dietista. No congelador esperavam-nos as tripas à moda do Porto do domingo gordo e o cozido do Carnaval a que não comparecemos este ano, graças às opções políticas que neste espaço me abstenho de comentar.
Ai, nem os repastos do Eça, se aproximam das delícias fumegantes que desfilam na mesa da casa da minha mãe. 
Voltando à mousse das freiras - Em Fátima ainda existe uma casa de freiras com restaurante aberto ao público, onde a ementa consiste numa sopa, um prato de carne ou peixe à escolha e fruta ou doce - comida económica e frugal. Porém há muitos e muitos anos quando eu era pequenina serviram à mesa, uma terrine de porcelana que continha deliciosas fatias de pão de ló mergulhadas numa mousse de chocolate irrepreensível. Tentei recriar a referida obra de arte e não me arrependi. Para a mousse uma receita dos caderninhos da minha irmã F.:

Mousse de chocolate
150 gr. de açúcar
150 gr. de chocolate Bellville (é chocolate de culinária, usei Nestlé)
100 gr. de manteiga
6 ovos
algumas nozes
Derrete-se a manteiga em banho maria, a que se junta o chocolate em raspa, batendo até ficar desfeito. Retira-se do lume juntando o açúcar e continuando sempre a bater; em seguida juntam-se as gemas uma a uma batendo sempre. Por fim junta-se as claras batidas em castelo firme, misturando-se sem bater. Verte-se numa taça e enfeita-se com nozes.
Nota: Esta versão de mousse pode servir-se de imediato sem ir ao frigorífico. No entanto eu levei ao frigorífico pois gosto da mousse fresca.
Para o pão de ló a receita de uma velha amiga, a L. - uma amizade que se desvaneceu pela distância ... A L. adorava fazer sobremesas, quando descobriu esta receita nunca mais comprou um pão de ló de pastelaria pela Páscoa ou pelo Natal - eis uma boa ideia para a crise e para a saúde também.
Eramos muito amigas, recordo com saudades aqueles anos, mas Schopenhauer tem razão...

Pão de ló da L.



7 ovos
14 colheres de sopa de açúcar
7 colheres de sopa de farinha com fermento (usei Nacional para bolos)
Batem-se durante 15 minutos as gemas com o açúcar. Acrescenta-se a farinha colher a colher, continuando a bater. Bate-se as claras em castelo firme com uma pitada de sal e envolvem-se na massa do bolo sem bater. Vai ao forno pré-aquecido a 200 Cº, em forma de buraco untada e polvilhada com farinha. Coze cerca de 15 minutos e está pronto.



Bom apetite.
Nota: As fotografias não fizeram jus às maravilhas culinárias e não tenho uma terrine de porcelana, mas logo que encontre uma que me agrade, vou proceder à sua aquisição. Isso e uma fruteira que é coisa que também não existe nesta casa, e só me dei conta agora que tinha uma grande reserva de maçãs e não havia onde guardar! Já tive várias fruteiras, foram-se partindo, e ultimamente a fruta anda em taças de barro, nem me dei conta...
 



2 comentários:

  1. Mousse com turbilhão de nozes à tona...
    Hummmmmmmm....
    Óptima ideia a mistura com o pão-de-ló.

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  2. Quando eu estiver
    com o olhar distante,
    maninha,
    com um jeito esquisito
    de quem não está presente,
    não se assuste,
    ó maninha,
    fui logo ali,
    no quintal do céu,
    colher uma estrela cadente.
    Roseana Murray

    ;)

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